A heresia do Catarismo, parte III
Essa é a terceira parte de uma série de quatro postagens, feitas com um estudo profundo sobre a heresia albigense (também chamada de Catarismo), estudo este feito pelo Reverendíssimo Cônego Paulo Roberto de Oliveira
Reverendíssimo Cônego Paulo Roberto de Oliveira, Cavaleiro-Capelão Grande Oficial de Obeidência ad Honorem da Sacra Ordem Dinástica, Equestre, Militar e Hospitalar da Milícia de Jesus Cristo e de Santa Maria Gloriosa, Grão-Chanceler da Suprema, Insigne e Fidelíssima Ordem de Sua Alteza o Príncipe: de São Miguel Arcanjo e do Preciosíssimo Sangue, Cônego da Sereníssima Casa Principesca de Mesolcina, Membro do Conselho Privado de Sua Alteza o Príncipe de Mesolcina.
O PAPADO FINALMENTE ENTRE EM AÇÃO CONTRA O CATARISMO
O Papa Eugênio mandou um legado para o sul da França para ver o que poderia ser feito, e São Bernardo, o grande orador ortodoxo daquele período vital, pregou contra eles. Mas nenhuma força foi usada. Não havia nenhuma organização verdadeira disposta a atender os hereges, embora já houvesse homens exigindo uma ação vigorosa para que a sociedade fosse salva.
Por fim, o perigo tornou-se alarmante. Em 1163, um grande Concilio da Igreja, realizado em Tours, fixou um rótulo e um nome pelo qual a heresia deveria ser conhecida. Albigense era esse nome, e foi mantido desde então.
É um título enganador. O distrito albigense (conhecido em francês como "Albigeois") é praticamente o mesmo que o departamento de Tarn, nas montanhas francesas centrais: um distrito cuja capital é a cidade de Albi. Sem dúvida alguma, os missionários hereges vieram de lá e sugeriram esse nome, mas a força do movimento não estava naquelas colinas mal povoadas, mas nas planícies ricas em direção ao Mediterrâneo, no que era chamado o Languedoc, uma região da qual a grande cidade de Toulouse era sua capital.
Alguns anos antes que esse Concílio de Tours tivesse fixado um rótulo e um nome, no movimento agora subversivo - Pedro de Bruys pregara as novas doutrinas no Languedoc e, com ele, um companheiro chamado Henry que perambulou pregando em Lousanne, no que é hoje à Suíça, e depois em Le Mans, no norte da França.
Deve-se notar que a população estava tão exasperada com o primeiro desses homens que eles o pegaram e o queimaram vivo. Mas ainda não havia nenhuma ação oficial contra os Albigenses, e a Igreja ainda tentava pelas armas espirituais trazer estes filhos à luz da verdadeira fé, e isso por anos e anos, esperando que houvesse uma solução pacífica. Mas em 1167 veio o ponto da virada.
Os albigenses, agora totalmente organizados como uma contra-igreja (tanto quanto o calvinismo foi organizado como uma contra-igreja quatrocentos anos depois), mantiveram em Toulouse um conselho geral de seus membros, e a essa altura entra o fator político, parecia que a maior parte dos pequenos nobres, que formavam a massa do poder combatente no centro e sul da França ,senhores de aldeias isoladas, eram em grande parte favoráveis ao novo movimento. A Europa Ocidental naqueles dias não estava organizada como é agora em grandes nações centralizadas. Foi o surgimento do que é hoje chamado "feudo".
Os senhores dos pequenos distritos foram agrupados sob senhores superiores, estes por sua vez estavam sob a autoridade de homens mais poderosos, que eram os chefes de províncias frouxamente unidas, mas ainda assim unificadas. O duque da Normandia, o conde de Toulouse... eram na realidade soberanos locais. Ele devia deferência e fidelidade (ao processo chamado de Vassalagem) ao Rei da França, mas parava por aí e nada mais.
Ora, a massa dos Senhores menores do Sul favoreceu o movimento, já que muitos outros movimentos heréticos foram favorecidos desde então pela mesma classe de homens, porque viram uma chance de ganho privado às custas das propriedades e terras da Igreja. Esse sempre foi o motivo principal dessas revoltas.
Mas havia outro motivo, que era o crescente ciúme sentido no sul contra o espírito e o caráter dos do norte da França. Havia uma diferença na fala e uma diferença de caráter entre as duas metades do que era chamada a monarquia francesa. O francês do norte começou a exigir novamente pela supressão da heresia do sul.
Finalmente, em 1194, depois que Jerusalém foi tomada pelos muçulmanos, e a Terceira Cruzada não conseguiu recuperá-la, a coisa chegou a um ponto crítico. O conde de Toulouse, o "monarca" local, naquele ano, ficou do lado dos hereges.
O grande papa, Inocêncio III, finalmente começou a se mexer. Já era hora: era quase tarde demais. O papado havia aconselhado a postergar qualquer ação bélica, na esperança persistente de alcançar a paz espiritual pela pregação e pelo exemplo: mas o único resultado deste atraso foi que permitiu que o mal crescesse em dimensões nas quais colocava em perigo toda a nossa cultura. Quanto essa cultura estava em perigo pode ser visto a partir dos principais dogmas que foram abertamente pregados e postos em prática pelos hereges cátaros, todos os sacramentos foram abandonados. Em seu lugar, um estranho ritual foi adotado, misturado com o culto do fogo, chamado "A Consolação", no qual se professava que a alma estava purificada.
A propagação da humanidade foi atacada; o casamento foi condenado, e os líderes da seita espalharam todas as extravagâncias que você encontra em torno do maniqueísmo ou do puritanismo onde quer que apareçam. O vinho era mau, a carne era má, a guerra era sempre completamente errada, assim como a pena de morte; mas o único pecado imperdoável era a reconciliação com a Igreja Católica.
Todas as heresias fazem disso seu ponto principal.